Mensalmente você calcula seus gastos básicos, como aluguel ou prestação da casa, luz, água, supermercado, academia, faculdade, curso de especialização, manutenção do carro e gasolina.
Seja mentalmente ou na ponta do lápis, com planilhas complexas ou anotações simples: seus custos são previsíveis e é por meio deles que você negocia seu salário, planeja gastos, estabelece um padrão de vida.
Existem variáveis como aniversários, médico, jantares fora de casa. Se o orçamento apertou, na dúvida, é só conferir o extrato do cartão.
A verdade é que o histórico está lá, e com facilidade você pode observar excessos, onde tá sobrando, onde está faltando, o que você precisa fazer para reduzir despesas e otimizar a maneira que você utiliza seu precioso dinheiro.
Agora imagine que o mesmo precisa ser feito no campo, nas plantações de grãos, na produção de leite, na criação de gado.
Como calcular quais nutrientes serão necessários para o solo se você não sabe exatamente o histórico do que foi aplicado ali nos últimos anos?
Esperar para descobrir durante o desenvolvimento da planta nunca foi uma opção, e por isso, não foram poucos os custos previamente calculados por agricultores, que no fim, tinham valores abaixo dos problemas reais encontrados na plantação durante a safra.
Prejuízo para o agricultor, para o bolso, baixa produtividade e baixa qualidade do grão.
Essa realidade nem tão distante caminha para se tornar menos frequente, e deixa como legado aprendizados que são incorporados às tecnologias cada vez mais precisas, e que há algum tempo estão modificando o cenário agropecuário, tornando-o mais produtivo e sustentável em todo o mundo.
Estamos falando da agricultura de precisão, que após três décadas, com o recente e contínuo incremento da tecnologia, passou a ser um dos principais conceitos da agricultura 4.0.
Se você é startupeiro ou empreendedor que já pensou – ou não – em conhecer melhor o setor das AgTechs, saiba que a demanda por tecnologias capazes de aumentar a produtividade podem fazer você pivotar seu produto que não tá dando tão certo assim e migrar para um dos setores com as tendências de crescimento mais positivas e desafiadoras dos próximos anos.
Vem entender!
Entendendo a agricultura 4.0
A energia e depois a eletrônica marcaram avanços que revolucionaram a produtividade no campo.
Décadas depois, falamos em IoT (Internet das Coisas), automação, Inteligência Artificial, aprendizado de máquina e tecnologias que mais do que economizar tempo e aumentar a produtividade, vão garantir que nos próximos anos a agropecuária se torne uma verdadeira ciência.
Para você entender em detalhes, a era da agricultura 4.0 compreende desafios e responsabilidades que buscam melhorar a produção agrícola de várias maneiras, a partir de princípios básicos:
- Tornar a produtividade mais sustentável (no âmbito financeiro, ambiental e social)
- Garantir a segurança alimentar
- Consolidar a produção de alimentos para consumidores que exigem mais transparência
- Minimizar perdas e desperdícios
- Alimentar 10 bilhões de pessoas que vão habitar a Terra em 2050
Agricultura de precisão no Brasil
A introdução da agricultura de precisão no Brasil ocorreu na década de 1990. Goiás, Mato Grosso, Paraná e Rio Grande do Sul são hoje os estados que mais utilizam a técnica.
Entre as práticas que a AP proporciona está a automação de máquinas e processos, melhora na produtividade, consideração do solo (aspectos físicos, químicos, compactação), mapeamento, semeadura a taxa variável, prevenção de infestação de ervas daninhas, doenças e pragas.
Considerando variabilidade espacial e temporal, e que cada área do solo tem características físicas, químicas e compactação diferentes, a agricultura de precisão tem por princípio o conceito que a propriedade agrícola não é uniforme.
Esse conceito e as ferramentas permitem a utilização mais precisa e controle maior no uso de insumos agrícolas, aumentando a produtividade, lucratividade e reduzindo impactos ambientais.
Parte primordial da agricultura de precisão significa levar em conta a sustentabilidade do sistema, e não visa, num primeiro momento, o aumento da produtividade na lavoura, mas sim a coleta, organização e gerenciamento de forma mais eficiente das características de cada propriedade.
Algumas ferramentas utilizadas pela agricultura de precisão para fazer esse gerenciamento:
- Sensores: pluviômetro, o sensor do volume de chuva que possibilita analisar o histórico de chuvas e programar irrigação sem desperdício; o sensor de umidade possibilita fazer uma análise do solo e saber com rapidez se ele precisa de irrigação; o sensor térmico que analisa a taxa de evaporação e absorção de água no solo.
- Controle aplicação de insumos: como citado anteriormente, diferente do que ocorre na agricultura tradicional, onde a aplicação de insumos é uniforme, na agricultura de precisão a aplicação será feita apenas onde é necessário, contribuindo para uma cadeia de produção mais sustentável e sem desperdícios do ponto de vista financeiro, e também ambiental, promovendo a segurança dos alimentos e longevidade do solo.
- Automação de máquinas e processos: esse tipo de ferramenta possibilita o controle e execução dos dispositivos mecânicos, eletrônicos e computacionais, dispensando a mão de obra motora e tornando o segmento mais eficaz e produtivo.
- Semeadura a taxa variável: considerando a capacidade produtiva do solo de acordo com a variabilidade espacial, um dos fundamentos da agricultura de precisão é adaptar as sementes à oferta específica dos ambientes no talhão, tornando as lavouras mais homogêneas e produtivas que o manejo tradicional.
Os processos citados acima envolvem ainda drones para coleta de informações, mapeamento por imagem, adubação de precisão, barra de luz, entre outras inovações.
A combinação destas tecnologias agrícolas pode aumentar o rendimento global das lavouras em até 67%.
O uso da tecnologia na agricultura de precisão
A quantidade de agrotóxicos aplicados nas lavouras de extensão é, do ponto de vista financeiro e ambiental, uma das principais dificuldades enfrentadas pelos agricultores.
“Hoje os agricultores enfrentam um problema bem sério do ponto de vista financeiro e de logística, que é a quantidade de aplicação de defensivos. Não se consegue produzir lavouras de extensão, como soja, milho e trigo, sem uso de defensivo, e com isso, o agricultor gasta em média R$ 2 mil por hectare.
Marcos Fernandes
Sócio-fundador da NetWord Agro
A empresa desenvolveu uma tecnologia que faz o monitoramento de lavouras através de imagem, que gera um mapa de incidência de pragas, doenças e plantas daninhas.
O agricultor coloca os mapas no pulverizador, e automaticamente, faz a aplicação de agrotóxicos somente onde tem a incidência.
Dessa maneira, a economia gerada com defensivos é de aproximadamente 40%, uma média de R$ 800 por hectare.
Do ponto de vista ambiental, o mapa de incidência reduz a quantidade de água utilizada na safra, reduz o tempo de uso do maquinário – por consequência, de diesel -, além de reduzir os danos às plantas e ao solo saudável.
A tecnologia criada pela NetWord Agro já atende mais de 20 mil hectares de soja, milho, trigo, feijão, algodão e cana de açúcar no Paraguai, Mato Grosso do Sul, São Paulo e Paraná.
“Somos a única empresa hoje que consegue gerar mapas traditivos, que identificam os agentes causadores de danos antes de acontecer. Através do imageamento por drones e monitoramentos semanais, essas imagens sobem na nuvem e são processadas em um modelo matemático. Por fim, um software de inteligência artificial que reconhece os padrões gera os mapas de incidências”, detalha.
Por fazer a identificação antes do dano, além da redução de gastos e da aplicação de agrotóxicos, Marcos estima um aumento da produtividade em 10%.
A empresa agora trabalha para alcançar um milhão de hectares em 2020 e 2021, atendendo todos os locais no Brasil que tenham agricultura de extensão.