Natural de Laranjeiras do Sul e radicado na capital do Paraná há nove anos, Fernando Kanarski tem motivos de sobra para se considerar um inovador.
Ele comemora um ano como nômade digital e conta porque abandonou uma carreira de oito anos em busca de um novo estilo de vida, prestando consultorias e trabalhando durante uma viagem de mais de 117.000 quilômetros.
- O que é ser um nômade digital?
- Quando começou essa vida de nômade?
- O “ano da crise” ameaçou seus planos?
- Como você coloca em prática o conceito de viver como um local?
- Muita gente deve pensar que ser nômade é não ter responsabilidades, inclusive fiscais. Como você lida com isso?
- E como fica a questão financeira durante suas viagens?
- Dá para dizer que a ascensão da tecnologia colaborou para o surgimento desse profissional?
- E trabalhar remotamente foi lucrativo?
- Como você avalia o mercado de trabalho para o trabalhador nômade?
- Ser nômade é ruim em algum momento?
- O preço influencia na escolha do seu próximo destino?
- Dá para planejar o futuro sendo um nômade digital?
- Sobre o nômade Fernando Kanarski
O que é ser um nômade digital?
O termo é relativamente novo no Brasil, se tornou mais comum nos últimos três anos e atualmente não deve existir muito mais que uma centena de brasileiros nômades pelo mundo. Cada um tem seu estilo, mas todos com algo em comum: viver como um local e trabalhar remotamente.
O nômade digital não é um turista, ele realmente vive como um morador daquela localidade, mantém uma rotina de trabalho e afazeres como se estivesse em casa e nas horas vagas aproveita a vida conhecendo e explorando o mundo.
Quando começou essa vida de nômade?
Em junho completei um ano após ter abandonado um emprego “normal” para seguir carreira solo, conciliando trabalho com marketing digital e viagens ao redor do mundo, intercalando com temporadas no Brasil.
Foram 117.000 quilômetros voados, 21 cidades, cerca de 100 dias fora do Brasil, muito trabalho e histórias para contar. E em junho comecei uma nova temporada fora do Brasil.
Neste ano nômade meu faturamento foi três vezes maior de quando era empregado e tudo isso trabalhando em média seis horas por dia.
O “ano da crise” ameaçou seus planos?
Os amigos ajudaram a tomar coragem. Nada teria acontecido se eu não tivesse falado com muita gente, que ouviu minha ideia louca de abandonar tudo e virar consultor, enquanto viajava em um ano de crise.
Não vou citar nomes para não esquecer ninguém, mas foram pessoas incríveis que me deram dicas de empreendedorismo, indicaram livros, clientes ou apenas me incentivaram para tomar de vez a decisão. A coisa deu tão certo que os primeiros leads começaram a surgir mesmo quando eu ainda estava empregado e não pararam.
Mesmo depois de um ano, todos os clientes, jobs e consultorias ainda chegam completamente por indicação. Não consigo expressar aqui o tamanho da minha gratidão a todos que acreditaram em mim.
Como você coloca em prática o conceito de viver como um local?
Ter descoberto o conceito “slow travel” foi uma divisão de águas para mim. Para quem não sabe o que é, explico: em vez de passar 2 ou 3 dias aproveitando uma cidade, fico de 7 a 15 e aproveito para trabalhar e curtir a cidade de forma mais lenta, comprando no supermercado, andando de transporte público, frequentando cafés, parques e escapando das armadilhas para turistas. O fato de ter que trabalhar e ao mesmo tempo aproveitar as cidades que passei fez viajar tornar-se algo completamente diferente e muito gostoso.
Muita gente deve pensar que ser nômade é não ter responsabilidades, inclusive fiscais. Como você lida com isso?
Sair de uma empresa com carteira assinada e vários benefícios foi difícil.
Afinal, como freelancer, empresário, empreendedor, todo mundo precisa ter certa estabilidade, como um dinheiro de segurança, plano de saúde, algum investimento futuro, previdência e tudo mais. E criar empresa no Brasil é muito burocrático e chato. É tanto papel, tanta informação e burocracia que muitas vezes dá vontade de partir para a ilegalidade ou sumir de vez do país.
Mas estou aqui, firme e forte, depois de um ano com tudo certinho, notas fiscais e atendendo empresas legais, vivendo a vida chata e burocrática de adulto.
E como fica a questão financeira durante suas viagens?
Ter contas para pagar e não saber exatamente quando o dinheiro entra é complicado.
Sempre existe aquela tensão de não saber até quando os bons trabalhos vão durar e quando algo inesperado pode acontecer.
Mas acho que isso ajudou eu ter um planejamento financeiro muito mais controlado e mais responsabilidade na hora de pensar em dinheiro.
Dá para dizer que a ascensão da tecnologia colaborou para o surgimento desse profissional?
Eu não sabia como poderia ser produtivo ao tomar a decisão de trabalhar remotamente em cafés, hotéis, parques, aeroportos e aviões.
Acho que o fato de ter tanta tecnologia disponível para gerenciar tarefas, planejamentos, campanhas, fez com que se tornasse algo muito simples cuidar de cada um dos clientes e ainda iniciar alguns projetos pessoais.
Aqui, os créditos para Trello, Slack, Wunderlist, Pipefy, Evernote, entre outros recursos que sugiro a todos para ajudar a aumentar a produtividade.
E trabalhar remotamente foi lucrativo?
Quando iniciei esse projeto não imaginava que teria um resultado tão positivo. O engraçado é que eu imaginava ter que prospectar clientes gringos para ganhar em dólares e conseguir me manter.
Surpresa minha foi que praticamente todos os clientes são nacionais, carentes por marketing digital de qualidade, ainda mais num ano de crise.
Não posso reclamar de forma alguma da crise que o Brasil vem passando. Espero que assim que ela passar, as empresas dediquem ainda mais investimento para o digital.
Fazendo as contas, neste ano conquistei cerca de 45 leads, todos por indicação de amigos, alunos, clientes e 54% deles transformados em clientes, fazendo meu faturamento ser três vezes maior que o salário que recebia quando empregado.
Tudo isso trabalhando em média seis horas por dia.
Como você avalia o mercado de trabalho para o trabalhador nômade?
As empresas do mundo todo estão cada vez mais optando por home office.
Somado a isso, a barreira de localização cada vez diminui mais. Ou seja, estão surgindo milhares de oportunidades para trabalho remoto em centenas de profissões. Isso tudo abre cada vez mais caminho para o trabalho remoto e o nomadismo digital.
Já existem empresas focadas em achar vagas remotas e até organizar um ano de nomadismo digital ao redor do mundo.
Ser nômade é ruim em algum momento?
Viajar é bom, trabalhar é chato. Conciliar os dois pode ser um pouco traumático.
Mesmo me tornando altamente produtivo, às vezes, principalmente fora do país, bate uma certa “deprê” por estar trabalhando numa linda tarde ou durante a noite, enquanto todo mundo está aproveitando.
Mas acho que isso faz parte e a melhor forma de lidar sempre é pensar que assim que eu terminar de trabalhar estarei livre para curtir a cidade e, porra, eu passei por muita cidade legal!
Eu imagino que muita gente não consegue lidar com isso e muita gente já tentou nomadismo e não conseguiu, mas é uma batalha interna para ir trabalhando e como o tempo se acostumando.
O preço influencia na escolha do seu próximo destino?
Outra coisa ruim é que ir para lugares caros ainda é impossível. Eu teria de ganhar muito para conseguir passar um tempo em países que eu admiro muito.
Portanto, a alternativa é visitar países e cidades mais baratas, prezando por um mínimo de qualidade de vida e ainda voltando para o Brasil com frequência, onde ainda estão rolando muitos negócios.
Dá para planejar o futuro sendo um nômade digital?
Com certeza.
Nomadismo digital faz você sair da rotina, conhecer coisas novas, pessoas diferentes. Isso abre a cabeça para novos projetos e oportunidades.
Se bem organizado, um nômade pode conhecer o mundo, guardar dinheiro e planejar o futuro.
Já vi relatos de nômades que depois de um tempo estão se acomodando. Eu acho isso natural, depois de rodar o mundo deve chegar uma hora que a vontade de ter uma casa e se estabelecer num lugar aumenta.
O legal é que as decisões são tomadas com uma maior visão do mundo!
Sobre o nômade Fernando Kanarski
Fernando Kanarksi tem 30 anos, ama fotografia, cerveja e gadgets. É Growth Hacker e especialista em Google Adwords/Analytics. Já gerenciou ações de SEM e Redes Sociais para clientes como O Boticário, Subway Brasil, São Paulo Fashion Week, Tigre Brasil, Shopping Mueller, Prefeitura de Curitiba, Condor, Tyson do Brasil, Masisa Brasil, Editora Positivo, entre outros. Acompanhe a próxima parada dele ou entre em contato para saber mais pelo Facebook (@nandokanarski).